Rachel de Queiroz, escritora
Show no céu do Ceará
(( In memoriam ))
"Em maio de 1960 eu passava as férias na minha fazenda Não me Deixes, distrito de Daniel de Queiroz, município de Quixadá, Ceará. Eram 18h30, o céu já estava todo escuro e estrelado, porque o crepúsculo era cedo e rápido. Mas a lua nasceria bem mais tarde. Eu e minha tia Arcelina conversávamos na sala de jantar quando um grito do meu marido nos chamou ao alpendre, onde ele estava com alguns homens da fazenda. Todos olhavam o céu. Em direção norte, quase noroeste, a umas duas braçadas acima da linha do horizonte, uma luz alaranjada brilhava como uma estrela grande, talvez um pouco menos claro do que a Vésper. Essa luz era cercada por uma espécie de halo luminoso e nevoento, como uma nuvem transparente iluminada, de forma circular. E aquela luz com seu halo se deslocava horizontalmente, em sentido leste, ora em incrível velocidade, ora mais devagar. Às vezes se detinha.
Também o seu clarão variava, ora forte e alongado como essas estrelas de Natal das gravuras, ora quase sumia, ficando reduzido apenas à grande bola fosca, nevoenta. E essas variações de tamanho e intensidade luminosa se sucediam de acordo com os movimentos do objeto na sua caprichosa aproximação. Mas nunca deixou a horizontal. Desse modo ele andou pelo céu durante uns dez minutos ou mais, sempre na direção do nascente. Já estava a nordeste quando embicou para a frente, para o norte, e bruscamente sumiu. Esperamos um pouco para ver se voltava. Não voltou. Corremos, então, ao relógio: eram 18h45. Pelo menos umas vinte pessoas estavam conosco, no terreiro da fazenda, e todas viram o que nós vimos.
Na época estava em moda falar sobre disco voador e nós acreditamos que aquilo fosse um. Não era uma estrela cadente, não era avião, de maneira alguma. Não seria nenhum meteoro, nenhuma coisa da natureza – com aquela deliberação no voo, com aqueles caprichos de parada e corrida, com aquele jeito de ficar peneirando no céu, como uma ave. Não, dentro daquilo, animando aquilo, havia uma coisa viva, consciente. E não fazia ruído nenhum. No começo disco voador parecia algo sério mas o assunto foi banalizado e hoje a gente não sabe mais onde está a verdade."
por Fábio Farah (ISTOÉ Gente)
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Show no céu do Ceará
(( In memoriam ))
"Em maio de 1960 eu passava as férias na minha fazenda Não me Deixes, distrito de Daniel de Queiroz, município de Quixadá, Ceará. Eram 18h30, o céu já estava todo escuro e estrelado, porque o crepúsculo era cedo e rápido. Mas a lua nasceria bem mais tarde. Eu e minha tia Arcelina conversávamos na sala de jantar quando um grito do meu marido nos chamou ao alpendre, onde ele estava com alguns homens da fazenda. Todos olhavam o céu. Em direção norte, quase noroeste, a umas duas braçadas acima da linha do horizonte, uma luz alaranjada brilhava como uma estrela grande, talvez um pouco menos claro do que a Vésper. Essa luz era cercada por uma espécie de halo luminoso e nevoento, como uma nuvem transparente iluminada, de forma circular. E aquela luz com seu halo se deslocava horizontalmente, em sentido leste, ora em incrível velocidade, ora mais devagar. Às vezes se detinha.
Também o seu clarão variava, ora forte e alongado como essas estrelas de Natal das gravuras, ora quase sumia, ficando reduzido apenas à grande bola fosca, nevoenta. E essas variações de tamanho e intensidade luminosa se sucediam de acordo com os movimentos do objeto na sua caprichosa aproximação. Mas nunca deixou a horizontal. Desse modo ele andou pelo céu durante uns dez minutos ou mais, sempre na direção do nascente. Já estava a nordeste quando embicou para a frente, para o norte, e bruscamente sumiu. Esperamos um pouco para ver se voltava. Não voltou. Corremos, então, ao relógio: eram 18h45. Pelo menos umas vinte pessoas estavam conosco, no terreiro da fazenda, e todas viram o que nós vimos.
Na época estava em moda falar sobre disco voador e nós acreditamos que aquilo fosse um. Não era uma estrela cadente, não era avião, de maneira alguma. Não seria nenhum meteoro, nenhuma coisa da natureza – com aquela deliberação no voo, com aqueles caprichos de parada e corrida, com aquele jeito de ficar peneirando no céu, como uma ave. Não, dentro daquilo, animando aquilo, havia uma coisa viva, consciente. E não fazia ruído nenhum. No começo disco voador parecia algo sério mas o assunto foi banalizado e hoje a gente não sabe mais onde está a verdade."
por Fábio Farah (ISTOÉ Gente)
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